Vivências de uma geração retrata o modo de vida da geração do baby boom ? a geração que nasceu nos primeiros anos pós-II Guerra Mundial e que precedeu a minha. Através de pequenos episódios ilustrativos, demonstra-se como era o quotidiano de operários e camponeses ? a maioria da população - fora dos grandes centros urbanos, sob o regime salazarista. Numa primeira parte, apresenta-se a vida familiar, a (pouca) escolaridade e o trabalho - em condições duras - numa abordagem que pode ser encarada como neorrealista. À dureza da vida rural, seguia-se a inevitabilidade da Guerra do Ultramar ? uma guerra fratricida, que deixou marcas profundas no país e nas pessoas que por lá passaram. Alguns não regressaram ? a eles, é prestada uma singela mas sentida homenagem. A Revolução de Abril trouxe a libertação do jugo opressor da ditadura e abriu as portas de um novo mundo de descoberta. As novas liberdades foram, a pouco e pouco, assimiladas por aqueles que foram habituados a viver sem elas. Aquilo que, para a minha geração e para as novas gerações é dado por tão natural como respirar ? a democracia, a liberdade de expressão e os demais direitos, liberdades e garantias consagrados na Lei ? foi conquistado arduamente por uma geração que assiste, com um sentimento de impotência, à destruição daquilo que ajudaram construir: uma vida melhor para si e para os seus filhos. Renato Conteiro