"Uma coisa é ter futuro, outra é ter a vida toda pela frente." Assim, nesse fluxo e refluxo de reflexões, o poeta João Revolução surpreende e emociona o leitor neste belo e sensível "Cartas de amor para quem não lê", seja pelo desalento a transparecer a cada instante, seja pela comedida desesperança a pontuar a narrativa. À certa altura, a personagem admite:"fui feliz onde morava / mas ainda não sabia do que estava a falar". Não há espaço, portanto, para sentimentos outros que não tragam em seu bojo a ideia do desapreço pelo mundo ao seu redor. Exposto a certa altura, em toda a sua crueza assim: "Moro num jardim de inverno perto do cemitério. / Acho que enterram lá pessoas, pelo menos nas imensas caixas de madeira com medidas perfeitas para depois da juventude". Estonteante, a presente obra. Um pedaço de silêncio que nos completa.