É interessante como João Rendeiro nesta obra se revela crítico do paradigma académico identificado pela ?síntese neoclássica? e assente no princípio da racionalidade do ?homem económico? que, estatisticamente, ?comportar-se-ia como uma distribuição normal e os modelos econométricos que representavam tinham um comportamento estocástico perfeito?. Por isso reconhece ?a implosão dos modelos estatísticos? perante a incapacidade de explicarem ?as crises, sobretudo se graves?. O Autor não é um personagem fora do palco dos acontecimentos, nem ao longo das duas centenas de páginas revela qualquer preocupação com qualquer neutralidade académica. Pelo contrário, situa-se no enredo, escalpeliza os personagens e identifica as relações que entre elas se estabelecem. Porém, fá-lo com o conhecimento de uma experiência acumulada, o domínio das técnicas do negócio financeiro e a sustentação da teoria económica que continua a dominar. Neste aspecto, não é muito usual encontrar quem consiga combinar aqueles três pilares do conhecimento. João Rendeiro conhece bem os meandros da política e dos negócios em Portugal e não se coíbe de tomar posição, quantas vezes em contracorrente ao mainstream construído diariamente entre política, negócios e media. É esta atitude que o distingue do discurso politicamente correto que domina o dia a dia desta minúscula praça financeira sedeada em Lisboa. Quando estes meios são de reduzida escala tudo se torna mais previsível, salvo as tempestades financeiras que a globalização faz chegar ao mais recôndito lugar do mundo, principalmente quando a sua exposição é inversamente proporcional ao seu tamanho e relevância.