António Manuel é um sem-abrigo bastante conhecido em quem recai a estima de grande parte da população da cidade. Esta apresenta traços de aldeia cujas ruas, largos, praças, chão e céu constituem a casa que este homem habita. Ele tem um passado desconhecido que se presta a especulações. É tido como alguém a quem a razão não ajuda, mas também, em sentido contrário, como pessoa de razão aferida e até, por vezes, com suspeita de ter faculdades excecionais de razão superior. Entre o presidente da câmara municipal, Filipe Cavaco, e o sem-abrigo que o vulgo afivela de Tomané, nasceu áspera animosidade que filiou partidários de ambos os lados. Estes demarcam-se logo na confrontação suscitada pelo vazio de horas civis devido à paralisia do relógio avariado do edifício da câmara municipal e pela hegemonia das horas das várias igrejas. A postura municipal que proíbe a alimentação pública dos pombos da cidade, abre claramente uma luta política intensa e prolongada. Os pombos manifestam uma inteligência e uma consciência política de que o sem-abrigo dá particular testemunho. João, Rafael e Joaquim são três pombos que mais se destacam. Tomané é acusado de usar os pombos como arma de arremesso contra o poder instituído. Tomané rodeado de amigos que se unem na mesma causa habilita-se na argumentação e aguça a contestação política. Com a mesma desenvoltura estende a sua crítica a responsáveis políticos em exercício para lá dos muros da cidade. Conhece Maria Ana, jovem universitária, de saltos altos, livros na mão, que provoca sede. Em dois momentos esta cidade faz-se anunciar na varanda do país dada a estridulação dos acontecimentos: quando as forças policiais reprimem com violência a manifestação de 25 de Maio na praça do município; quando são disputadas eleições e um sem-abrigo, Tomané, está na iminência de ser eleito presidente da câmara. O susto passou. Tomané não foi eleito presidente da câmara assim como não foi reeleito Filipe Cavaco. As eleições foram ganhas pelo PDBE, os esverdeados, sem aviso de vitória pelas sondagens. Filipe Meirinho é o novo presidente que acaba por desencadear as medidas sanitárias mais sinistras até então visando os pombos da cidade e desmoralizando os columbófilos. Introduz os ornitófagos que lhe dão o controlo aéreo da cidade e obrigam à fuga de parte dos pombos para os campos. Tomané fala aos pombos. Resistir é a palavra de ordem. Entretanto Tomané e Maria Ana, da partilha de histórias, leituras e luta política passam à partilha de uma vida íntima em comum. Nasce-lhes um filho. É Tomanico. Tem um olhar de pássaro, como o pai. Sucede-lhe na luta política de oposição e resistência. Ele e seus amigos, encarecendo a força do querer, espalham entre si como lema: A gente tem de sonhar! ? Sonhar com força!