No lugar onde nasci somos todos poetas porque a vida não é clara e a poesia tem camadas. Acreditamos que o linear conduz a melodia do nosso jeito, mas dentro do viajar dessa Angola que um dia nos foi roubada e que das nossas mãos muitas vezes se escapou, somos todos pedaços do que já foi e do que ainda está para ser. Há quem diga que ela se escapa todos os dias e volta aos poucos, porque a vida é para ser vivida assim, devagar. A gente da terra, o cheiro de maresia e de mata renovada, os cristais de suor que calam os olhos cansados e os sorrisos, muitos deles opacos, são todos resultados de um caminho que o olhar do presente não alcança. A terra cansada, arranha os pés descalços do moribundo que não se sabe, mas mesmo assim, nós todos caminhamos rumo à esse distante.