Apenas no silêncio se transmitem as mensagens com destinatário, mas impossíveis de serem entregues. Todas as páginas deste livro são telegramas que confessam sempre alguma coisa a alguém que não existe senão dentro da sua própria vida. Todas a imagens são retratos imaginários, mas possíveis. Todos os poemas são cartas para não mandar, como as de Bernardo Soares, nas suas páginas desassossegadas: "Dispenso-a de comparecer na minha ideia de si. A sua vida. Isto não é o meu amor; é apenas a sua vida. Amo-a como ao poente e ao luar, com o desejo de que o momento fique, mas sem que seja meu nele mais que a sensação de tê-lo." As mensagens transmitidas em silêncio, pelo sonho do que nunca podia ter sido, apesar de desejado, apenas porque assim será sempre puro e nobre. "Eu não sonho possuir-te. Para quê? Era traduzir para plebeu o meu sonho. Possuir um corpo é ser banal. Sonhar possuir um corpo é talvez pior, ainda que seja difícil sê-lo: é sonhar-se banal - horror supremo." in Livro do Desassossego, composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa.