Meu avô participa da Primeira Guerra Mundial, sobrevive à Batalha de La Lys e emigra para o Brasil antes que fosse convocado para lutar na África. Desembarca no Rio de Janeiro, extraindo do porão do cargueiro o carroção em que ele, a irmã e a mãe encenariam a peça Os Lusíadas por dois anos, percorrendo as longas, inclinadas e sinuosas estradas das montanhas do Rio e de Minas até chegarem a Teixeiras, MG. Nessa cidade, o Teatro Teixeira estaciona para sempre. Meu pai nasceu alguns anos depois, em 1923, colecionou e viveu histórias que mais tarde contou aos filhos. Esses casos engraçados ou dramáticos perpassam grandes eventos do Século XX. Um deles retrata a quebra da Bolsa de Nova York, carregada de tragédias, e seu impacto na família do maior corretor de café da região. Noutros, discutem-se a invasão da Hungria pelo exército soviético e o desastre comunista. Outros descrevem a vida política no interior brasileiro em que os partidos dominantes esmagavam os outros com tocaias, assassinatos e pancadarias. Na região do Contestado Mineiro, uma prefeitura é invadida para antecipar a posse do prefeito eleito. Episódios da imigração alemã e da criação do sistema de colônias são apresentados no capítulo Tragédia na Colônia. Os antecedentes da ditadura militar de 1964 e os dramas que se seguiram são abordados em um ou outro caso. A maioria das histórias, contudo, trata da vida na fazenda e numa cidade do interior brasileiro e da luta de um pai para educar os filhos num sistema de educação retrógrado e elitista.