Alguém já disse que a poesia costuma brotar no terreno baldio da imaginação, e sua colheita é feita por aqueles, cujas janelas, são metade sol, metade penumbra. Luzes e sombras na mítica Janela do Tempo. A poesia é um jogo de pincéis e esquadros, que tingem transversalmente as paisagens do nosso dia a dia. Mas o poema, fruto dessa colheita, não serve se requentado, o poema é para ser servido inquieto, em fogo ardente, mesmo quando traz em seu bojo, uma centelha de ternura e suavidade. O poema é como um filme para cegos, quando o ?mundo que vê? é dominado por desejos superficiais, pela ambição e pela ignorância. Há que se lançar no escuro para se chegar à alma do poema, há que tatear na palavra, para desvendar a verdadeira natureza da consciência transitória, quando cada momento da vida se precipita sobre nós, como signos em constante mutação. É dessa matéria que trata Enxertos, o livro que você tem nas mãos, é um compêndio do que há de mais frutífero no pomar da poesia, um passeio por caminhos e paisagens atemporais, a palavra inquieta, emoldurada nos sonhos e na vivência do poeta Nilson Young ,e na arte abstrata e sublime de Salomé Paiva. Enxertos é ouro alquímico triturado e transformado na pedra filosofal de um tempo desvalido, mas que ainda propicia o brotar de rosas na relva rala do dia. Os anos passam, e cravados em nós mesmos, carecemos da faculdade de nos afastar do caminho inscrito na inanidade de nosso cotidiano, por isso, volto às rosas e às folhas da minha relva, ponho Bob Dylan para rolar nos meus headphones, e rendo-me à deliciosa leitura desses tortuosos, mas iluminados ?enxertos?, que são, em verdade, enxertos de mim, de você, de todos nós. (Rubens Stone)