A minha voz é a minha guitarra. Conheço bem o seu timbre, a sua entoação. Sei, por exemplo, quando estou triste. Ela soa como uma milonga, um tango, uma balada. Através dela me comunico, mesmo quando me calo. Quando me sinto amoroso, ela soa como um rio murmurando. Quando inflamado, ela atinge o tom dos pregadores, dos poetas bêbados, dos protestantes. Quando estou irritado, ela soa suja e rabugenta. Às vezes, eu sinto que ela soa estranha aos meus ouvidos. Percebo, então, que esta voz não é só minha. E ao escutar, reconheço a multidão gemendo a sua solidão.