Argumento de Pessoa e Nietzsche
Esta obra pretende abordar a presença da tragédia niilista no 'drama em gente'. A par da 'morte de Deus', o 'drama em gente' herda do 'filósofo-artista' a morte das principais categorias da Modernidade - utopia, racionalismo, historicismo, progresso, perfectibilidade humana, revolução, democracia e humanitarismo. Alberto Caeiro, qual criança liberta da doença civilizacional, despede-se da História e da maleita do pensar e refugia-se num 'estado natureza' estético, propiciador dos 'poemas-objectos', lembrando a procura nietzschiana da linguagem originária intuitiva. Ricardo Reis, apesar de distante do vitalismo nietzschiano, não deixa de conter o seu amor fati. E alguma vez os gregos deixaram de estar com eles? Álvaro de Campos, porque moderno, é o heterónimo onde a 'transmutação' dos valores é mais visível - amoralismo ('Odes'), artecracia, aristocratismo e anti-'cristismo' ('Ultimatum'), estética vitalista (Apontamentos para uma estética não-aristotélica). Pessoa, ele-próprio, apesar de 'novelo embrulhado para o lado de dentro', não deixa, enquanto autor do 'Interregno', de defender o irracionalismo histórico. E, perante a hecatombe da Modernidade, que pressentiram, e da metafísica tradicional, a redenção ontológica, passa a ser feita, por ambos, pela metafísica da arte.0