Argumento de Passos Perdidos
Encuadernación: Rústica
Tecto magnífico abobadado em berço e luz natural de clarabóia de ferro e vidro amarelo-rosado. Respondendo a três figuras alegóricas pintadas em cada um dos extremos do tecto, havia, no mármore branco e rosa das paredes (onde adossavam 18 pilares duplos), seis painéis a óleo sobre tela de Columbano Bordalo Pinheiro, representando 22 personagens desde o século XIII, velhos heróis da pátria (a descrição miúda seria ociosa), que, no entender de jovens eleitos ‒ sussurrava ela ‒, deveriam dar lugar a novos ícones: às curvas de actriz de seios e pernas sempre disponíveis, a saltimbanco de televisão, a chairman ou futebolista com vencimentos obscenos, aos filósofos da bola ‒ ralos das noites televisivas, que nos adormecem, e fazem escola sem pensar ‒, a um deputado de esquerda e da moda, muito entrevistado, ultimamente, que troca esta passerelle dos eleitos do povo pelos salões dos grandes estilistas. ‒ Os Passos Perdidos ‒ anunciou. O nome definia o reino, desde há nove séculos, na diferença entre os visionários D. Henrique e filho Afonso e o desleixo dos actuais representantes. Dava um belo título de romance.0