Nasceu numa aldeia perdida para os lados de Vinhais no Concelho de Bragança, entre o frio das pedras, as geadas e a solidão dos campos, o balir das cabras e dos borregos, a subserviência caprina da mãe e a ignorância besta do pai. Desde cedo descobriu que havia um outro mundo para lá da aldeia onde nascera, de Vinhais, do Rio Tuela, da capital de Trás-os-Montes, de tudo aquilo que lhe parecia perdido nos confins do nada. Que havia um mundo com outras aldeias e vilas, e campos e montanhas, e terras por onde passavam rios, e lugares onde se levantavam grandes cidades, algumas delas encostadas ao mar que nunca vira. Aos dezanove anos abandona a aldeia, os pais, os animais, todo aquele nada e parte para Lisboa para casa de uns tios. Vê-se explorado pelo tio, feirante e comerciante de roupas. Aprende a ?arte? de comprar por uma bagatela e vender com lucro. Por vezes em triplicado. Ao fim de meses tem já vontade de mandar os tios às urtigas mas não tem poder económico para começar uma vida a solo. O ?salário? que o manhoso do tio lhe dá fica quase todo lá em casa. Aos vinte e um anos a tropa chama-o. Dá-lhe uma farda e uma arma, instrução q.b., mete-lhe na cabeça uma série de patranhas e fá-lo partir num rebanho com mais mil cabeças de tipos como ele para Novo Redondo em Angola. Disseram-lhe que estava em jogo a pátria, a honra, a causa, a glória, o raio que os parta.Rapidamente descobre que tinha sido metido numa patranha. Assim que termina o tempo obrigatório de ?servir a causa? entrega a farda, a espingarda, as ideias que lhe tinham enfiado na cabeça, manda a tropa, (e tudo quanto lhe dizia respeito), ?abaixo de Braga? e resolve ficar em África, desconhecendo, como qualquer mortal, o que o futuro lhe reservava. Apaixona-se por África. Depois por uma jovem e bela africana que acaba por engravidar. Torna-se alguém, até que, em Lisboa, acontece o «maldito» e a adversidade toma conta da vida dele. A história de vida de José Diogo Mestre é uma verdade que não se pode (nem deve), esquecer.