Durante aqueles dias em que permaneceu junto do marido, o tempo escorria entre a enfermaria e o jardim do hospital. Às vezes, passava pelo bar para engolir um café e ouvir vozes, mas logo voltava para a cadeira, apertada entre a cama e a parede alva do quarto. A vida tinha parado no último Junho. Nem sempre é fácil explicar as nossas decisões. Nem sempre conseguimos atribuir-lhes uma causa precisa ou vislumbrar-lhes a nascente. Mas talvez isso seja irrelevante perante a certeza de que chegou o momento, perante a vontade que temos de dar mais um passo, de tornarmos a nossa vida mais nossa só pelo facto de a partilharmos com quem caminha connosco? Este é esse passo, o momento de dar fruto, o momento de desembrulhar toda a dor que a tua partida causou, o momento em que regressas a casa para mim. É um livro sobre a perda ? o absurdo desta perda que ainda não compreendo ?, sobre a dor, sobre a revolta, sobre a doença, sobre a vida e a morte. Mas não é um livro sobre o fim, porque o meu amor por ti continua no início e cada palavra que escrevo é sempre a primeira?