Mário, homem de grandes utopias, é mais um exemplo do arrojo empreendedor com que certas obsessões humanas se manifestam. Desde o tempo de mocidade que se entrega ao prazer de descobrir e coleccionar ninhos de aves. Ninhos abandonados. Alguns eram por ele encontrados no chão. Outros, eram surripiados nas alturas, onde tinham sido construídos, artisticamente entretecidos na folhagem das copas, ou entalados entre galhos. Sentia um gozo especial no momento mágico de descortinar ninhos, habilmente camuflados nas massas de arvoredo, e retirava-os do esconderijo com um prazer de encantamento nervoso. Hoje, já adulto, deixará qualquer um de boca aberta, espantado com os milhares de ninhos que mantém armazenados no espaço fascinante e sinistro de uma adega antiga, contígua à casa onde vive com a esposa. Anunciada a crónica romanesca deste colecionador de ninhos e de sonhos, faltará apenas que a curiosidade dos leitores os conduza a espreitar alegremente o cenário de um enredo muito interessado em relatar acontecimentos do quotidiano e peripécias milagrosas, um enredo que só poderá ser devidamente conhecido, e desatado, pelo numeroso elenco das personagens que o agitam.