?Não mais haverá um tempo que se encontre comigo e eu deixe ir incólume, nunca mais. Agora, logo que o encontro vivo-o, consumo-o e quando ele quer ir, deixo? Mas comigo ficou a alma, o poder de fazer mais uma ruga, uma artrose, mas eu preciso deste tempo. Se não o consumir a minha vida vai-se, perde sentido, e o tempo aborrece-se de mim e parte de mim para outro. ?A idade traz a forma veemente de se fazer ouvir alto quando se fala baixo. ?Morte? Desconheço-a. Mas, como os dias e as noites que se sucedem, assim a vida e morte são uma só. Também desconheço a vida e não a temo. A morte será mais um passo, mais um dia ou uma noite. ?Comecei a pensar na minha verdade, que deixou de ser suficiente. Das pessoas que me rodeavam, tinham todas a sua verdade, que defendiam como damas, e achei que a minha verdade era incompatível com as demais. O que fazer perante verdade absolutas e indesmentíveis, mas incompatíveis? ?Ela cumprimentou-me, afável. Imagine-se, como pode Ela ser afável aos olhos de um ser humano? Ela petrifica-nos. ?Sem mim não te darias conta que tens que agir, tens que interagir, tens que procurar, justificar a tua existência, se quiseres ser mais do que? uma alface. O tempo começou por me aterrorizar. Como usá-lo ou não usá-lo. Chegar ao final do dia perguntava: Vivi? Vivi como eu quis, ou apenas fiz qualquer coisa? Aqui o Tempo, O medo, a Liberdade e a Vontade assumem o seu lugar. No final digo: Vale a pena?