Talvez a soidade fosse isso, um viver para fora sem dor nem pranto e um viver cara dentro agonizando. Recordava a primeira vez que falara com a Sra. Engrácia, a bruxa. Aparecera na sua casa com cara de horror a avisá-la da sua iminente morte se nom ia ver um médico. Lembrava a raiva que se apoderara do seu corpo virando-a cega. Despois fora a calma, e a decisom de converter-se também a essa vida lenta da Escravitude. Nom poderia viver esquecida, assi que compartiria aquilo que lhe parecesse inócuo, pedaços da sua vida que flutuavam polos arrabaldes da sua alma.
Aprendeu que na Escravitude as palavras sempre tinham um significado engadido, que nom importava o tema ou o sentido, o importante era sentir-se acompanhada, sentirse parte desse conjunto imaginário que os tornava povo, grupo. Só seres como Paco se podiam livrar dessa maquinaria, seres que tinham do seu lado a desgraça. A soidade só era desculpada se houvese um bom motivo, um mal que pudesse sumir ao solitário na desesperaçom.
(...)
Fotografias: Luz Castro.