«Acho que a vida não me deu muitas oportunidades. Sempre tive dificuldades em estudar, obter livros e essas coisas todas... Um ano após a morte da minha mãe, já eu tinha 14 anos, arranjei um pequeno trabalho no atelier Mar, onde comecei a comprar os meus utensílios escolares com o meu próprio dinheiro. Desde essa altura, acho que cresci muito dentro de mim, porque sempre quis ser alguém na vida. O meu tempo era preenchido ouvindo música, vendo televisão e, às vezes, resolvendo palavras cruzadas, que eram oferecidas por voluntários de luta contra o cancro, bem como revistas e jornais. Já disse inúmeras vezes, e não me canso de referir, quão importantes foram para mim e para os outros doentes o trabalho, o humanismo, a ajuda e a amizade de todos quantos trabalham no hospital. Tenho tanta vontade de regressar a S. Vicente para ver a minha família e amigos! Para poder fazer tudo o que gostava e que me deixava feliz, as pequenas coisas do dia a dia. Quando penso nisso tudo, aperta-se-me o coração com um sentimento que eu sabia existir, mas que nunca imaginei que fosse assim tão forte. E, com esses pensamentos, o meu rosto ficava banhado em lágrimas. No dia em que chegar perto das pessoas que adoro, se me permitirem, nunca mais me afastarei delas. E cada momento vivido aqui em Portugal será recordado e acompanhar-me-á para o resto da vida.»