Este livro, «Crónicas da Terra Longe», de Luiz Andrade Silva, resulta da compilação de uma diversidade de textos publicados na imprensa cabo-verdiana e estrangeira, como também de algumas intervenções públicas no âmbito de iniciativas promovidas pelas comunidades cabo-verdianas radicadas no estrangeiro. O conteúdo desta obra circula à volta da temática da emigração, mas sem deixar de abrir espaço, aqui e além, para a abordagem de questões atinentes à cultura, ao desporto e outros assuntos candentes da vida cabo-verdiana. Dir-se-á que tinha de ser assim porque o fenómeno da emigração aglutina tudo o que substancializa a existência de um povo. Com efeito, o homem cabo-verdiano emigra mas leva com ele o seu imaginário e o seu património cultural e, embora dotado de aptidão natural para se integrar e conviver pacífica e harmoniosamente com os povos estrangeiros que o acolhem, ele jamais deixa de ser o que é, nunca perde os liames da sua vincada consciência identitária. Embora capaz de assimilar facilmente uma cosmovisão que o habilita a enriquecer o seu espírito e a superar as suas limitações, o cabo-verdiano jamais perde a bússola da sua própria geografia mesmo que milhares de léguas o separem das suas ilhas. Luiz Andrade Silva é autor, mas é simultaneamente personagem activo das vivências e factos que relata, analisa e critica, com o peso e a medida que lhe conferem a sua vasta experiência de vida e o apetrechamento cultural que aperfeiçou precisamente no país que o acolheu como emigrante ? a França. Ao emigrar para a França em 1968, Luiz Andrade Silva seguiu o mesmo itinerário para Pasárgada que outros percorreram antes dele. Mas fê-lo imbuído e cônscio das referências sociológicas com que Baltasar Lopes da Silva reinterpretou a alegoria poética do brasileiro Manuel Bandeira. Na verdade, Luiz Andrade Silva foi para a «terra longe» não para se evadir lunaticamente em busca de uma felicidade fictícia, mas para ali instalar o proscénio de uma luta tenaz a favor das comunidades emigrantes, em particular, e dos seus irmãos cabo-verdianos, em geral. Se os políticos nem sempre, ou raras vezes, afinam o diapasão da sua agenda com as muitas e válidas propostas e sugestões de Luiz Andrade Silva, a verdade é que em momento algum ele afrouxa o seu ânimo e motivação para continuar a dar o melhor de si por Cabo Verde e pelo seu povo. Adriano Miranda Lima