O leitor pega num livro, concede-lhe uns instantes. Detém-se, hesita. Livros lêem-se ainda. E como se lêem ou hão-de ler? Não sei. Saberá alguém? Como se lerão estes contos? Um pouco de melancolia, de distância, não sendo indispensáveis, quiçá ajudem. São composições breves, de técnica variável, e acha-se nelas desde a narrativa na terceira pessoa até à feita na primeira. Predomina a narrativa na primeira pessoa, a que poderíamos chamar monólogo, solilóquio. Também há variantes e combinações. Na sua diversidade não deixam os Contos de ter unidade, se não temática, pelo menos de tratamento, ambiente e tendência alusiva. Foram ademais escritas no estrangeiro, e talvez por isso lhes seja mais vincado o pendor evocativo. A colectânea tem uns anos, e está bem assim, porque à nostalgia que a pervaga se junta uma pátina o seu tanto embaciada já, que é uma espécie de sorriso acolhedor e levemente triste. No fundo, o tempo é que dá às coisas o seu valor. Eu sou suspeito na sugestão, porque é meu o que apresento, mas não me parece se venha o leitor a arrepender de ter escolhido o livro.