RESUMO: Manuel Bandeira afirmou, certa vez, que apenas sabia traduzir os poemas que ele mesmo poderia ter feito e que só sabia traduzir bem poetas que se assemelhavam a ele próprio. Meu ensaio pretende discutir essa espécie de narcisismo tradutológico por meio da análise de sua tradução de fragmentos do Auto Sacramental do Divino Narciso, obra da Sor Juana Inés de la Cruz. Os ovilhejos cervantinos que figuram o diálogo entre Narciso e Eco, revelam toda a sorte de semelhanças e diferenças que estão implicadas no próprio ofício da tradução das formas poéticas em pares de línguas notadamente semelhantes (exemplo espanhol - português). Meu método consiste em desafiar as reservas de Bandeira quanto ao confronto de suas traduções com seus respectivos originais. A justaposição dos originais de Juana com as traduções de Manuel, revela certas inconsistências: algumas inconclusivas, outras claramente determinadas pela referida tensão entre as realizações hispânica e lusófona da forma poética do ovilhejo cervantino. O rigor da estrofe requer desvios semânticos na tradução. A diferença no campo prosódico se impôs, a despeito da semelhança vocabular entre os idiomas. Palavras-chave: Manuel Bandeira; Tradução Poética; Eco e Narciso; Sor Juana Inés de la Cruz; Poesia hispânica em tradução lusófona. RESUMEN: Manuel Bandeira dijo una vez que sólo sabía traducir los poemas que él mismo podría haber escrito y que sólo sabía traducir bien a los poetas que se parecían a él. Mi ensayo discute tal narcisismo traductológico mediante el análisis de su traducción de fragmentos del Auto Sacramental del «Divino Narciso», obra de Sor Juana Inés de la de la Cruz. Los ovillejos cervantinos que expresan el diálogo entre Narciso y Eco, revelan similitudes y diferencias visibles en el arte de la traducción de las formas poéticas en parejas de idiomas notablemente similares, como por ejemplo español - portugués. Mi método busca desafiar las reservas de Bandeira en relación a la confrontación de sus traducciones con los originales. La yuxtaposición de los originales de Juana con las traducciones de Manuel revela ciertas inconsistencias: algunas poco concluyentes, otras determinadas claramente por la tensión entre la versión castellana y la portuguesa de la forma poética del ovillejo cervantino. El rigor de la estrofa requiere desviaciones semánticas en la traducción. La diferencia prosódica entre los dos idiomas se impuso, en detrimento de las similitudes entre sus respectivos vocabularios. Palabras clave: Manuel Bandeira; Traducción Poética; Eco y Narciso; Sor Juana Inés de la Cruz; Poesía hispánica en traducción al portugués. ABSTRACT: Manuel Bandeira once said he only knew how to translate poems that he himself would have written, and he would only translate effectively those poets who resemb- led him. My essay discusses such case of translation-related narcissism, analyzing Bandeira?s translation of fragments belonging to The Auto Sacramental of the Divine Narcissus, by Sor Juana Ines de la Cruz. The cervantine ovillejos, which depicts the dialogue between Narcissus and Echo, may also reveal all sorts of similarities and differences that are involved in the craft of translating poetical forms in remarkably similar languages (e.g. Spanish - Portuguese). My method is to challenge Bandeira?s reservations concerning the confrontation of his translations with their originals. The juxtaposition of Juana?s original texts with Manuel?s translations displays a few inconsistencies: some inconclusive and others clearly subjected to tensions between the Hispanic and Lusophone approaches to the cervantine ovillejo poetic form. The rigor of the stanza requires semantic deviations in the translation. The prosodic difference imposed itself in spite of the astonishing vocabulary similarity between these two languages. Key words: Manuel Bandeira; Poetry in Translation; Echo and Narcissus; Sor Juana Inés de la Cruz; Hispanic poetry in lusophone translation.