Há muito que a vida o endurecera. E começara a fazê-lo encostando-lhe o rosto à vidraça da janela do quarto obrigando-o a olhar a rua à espera daquele que agora partira. Este vivera intensamente a sua vida pagara por esse atrevimento e não era mais que uma foto envelhecida colocada entre garrafas numa prateleira de bar na singela homenagem que o único amigo que tivera lhe fazia. Mas partira deixando para trás uma enorme quantidade de memórias muitas das quais não tão agradáveis como decerto desejara. Vivera um tempo repleto de amores e desencantos também. Fizera filhos e esquecera-os. Amara mulheres e esquecera-as. Acabara esquecido por todos. Menos por aquele que ocupara o seu lugar não só ao balcão daquele bar como também na fila de espera de um fim mais que anunciado. Aquele que lhe oferecera uma flor na derradeira homenagem.